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Estudante leva dois socos por homofobia em ônibus de SP: “Ninguém fez nada”

O estudante de jornalismo Luiz Otávio Crisóstomo, de 20 anos, foi surpreendido por um ataque homofóbico quando estava a caminho do estágio, em um ônibus que ia em direção à Avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste de São Paulo, na quarta-feira (27).

Ele relatou à Universa que estava sentado no último banco do veículo, conversando com uma amiga, quando foi surpreendido por um soco na cabeça e outro no olho, proferidos por um outro passageiro, que aparentava ter cerca de 30 anos.

“Minha amiga notou que ele jogou a mochila na nossa frente e ficou parado. Por um segundo, ela pensou que ele fosse nos assaltar. Eu nem tive tempo de perceber porque, na mesma hora, senti o soco na minha cabeça. Atingiu o meu nariz”, disse.

Após as agressões, que aconteceram por volta das 12h30, o rapaz teria começado a gritar que “os gays são responsáveis pela Aids” e que Luiz teria transmitido a doença para ele.

“Nunca vi aquele homem na minha vida. Mas, mesmo que tivesse visto, nada justifica essa agressão”, critica o estudante, que preferiu não registrar boletim de ocorrência.

Luiz conta ainda que, quando o ônibus parou no ponto, na Avenida Paulista, após cerca de cinco minutos de confusão e nenhuma reação do motorista, algumas pessoas desceram, mas ele não conseguiu, já que o agressor continuava bloqueando a passagem entre seu assento e a porta.

O estudante, que é carioca e vive em São Paulo há dois anos, assumiu a orientação sexual aos 14 anos e nunca tinha vivido uma situação semelhante: “Eu lia as notícias sobre homofobia nos jornais e pensava como agiria se um dia acontecesse comigo. Mas na hora fiquei sem reação, não consegui fazer nada”.

Luiz conta que está se recuperando mas, após o ocorrido, não consegue andar na rua com tranquilidade.

“Não me sinto mais seguro. Estou muito mais alerta, especialmente à noite e em semana de Carnaval. Também vou ficar um tempo sem pegar aquela linha [de ônibus] e andando mais de metrô”

“Naturalidade” Apesar da dor, o que deixou Luiz ainda mais espantado foi a reação das pessoas ao redor – ou melhor, a falta dela.

“O ônibus estava cheio e as pessoas não fizeram absolutamente, continuaram com seus fones de ouvido, agindo com a maior naturalidade. Um menino mais à frente tentou filmar, mas foi intimidado pelo homem que me deu os socos e guardou o aparelho. Ele foi o único que pareceu se espantar com aquilo”, conta.

O estudante lembra que, no fim da confusão, que acabou quando o homem desceu do ônibus dois pontos depois, próximo ao Hospital das Clínicas, um passageiro sentado a seu lado perguntou se ele realmente não tinha feito nada ao agressor. “Como se a culpa fosse minha”, desabafa.

Em texto publicado no Facebook relatando as agressões, Luiz questionou a SPTrans sobre a falta de intervenção do motorista do veículo.

Procurada, a SPTrans afirmou à Universa que repudia todo ato de discriminação, agressão, homofobia, racismo ou assédio sexual no transporte público.

“A SPTrans deu início a uma investigação junto à empresa operadora para verificar todos os fatos relatados pela vítima e apurar a conduta dos operadores. Caso fique constatada irregularidade na conduta do operador, a viação deverá tomar medidas disciplinares contra o funcionário. A SPTrans também determinou a revisão nos procedimentos de treinamento dos motoristas e cobradores para que episódios como esse não voltem a ocorrer. Nos treinamentos periódicos, a SPTrans orienta os operadores que, ao tomar ciência de um ato de agressão, homofobia, racismo e assédio sexual, para seguir com o veículo à delegacia mais próxima ou solicitar o apoio policial e comunicar o Centro de Operações da SPTrans e da empresa”.